sábado, 17 de dezembro de 2011

Morreu, foram 12 facadas.  Há uns dois meses pude vê-lo de perto. Um menino de semblante maltratado,  tinha o cabelo crespo e uma franja, (sempre alisada) o traje era desconexo, algum acessório de muito dele sempre existia no corpo... Uma fita desajustada presa ao braço magro... Penso que era muito dele porque não fazia parte da roupa habitual...  Tinha um vestuário próprio, alguma coisa nisso complementava o que ele não era...  Ele realmente parecia não estar ali subindo a rua... Ele não existia e não convivia bem com a ausência de vida. Pude ouvir a voz quando alguém ao lado chamou-o para dar notícias da mãe, a boca dele era levemente deformada, a voz nervosa... O que o cercava era inerte, mas, a vida existia para ele.  Quero ser o assassino no momento em que antecedeu o crime, sentir ódio, o medo, a esquiva... Talvez assim eu compreendesse.  Os doze golpes não quero saber, não quero entender.  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Além do mundo sensível

Sentimento era confuso até eu conhecer melhor a palavra sensação. É através de um nome que as coisas põem-se a existir. O que nasceu do coração? Flores ou vento? Nada! Nada?...Ainda não tem um nome... Como encontrar uma palavra para expressar algo que é sentido? Se eu tivesse conhecimento de todas as palavras do mundo, eu saberia explicar? Gostaria de ter hoje mil anos e escrever palavras do que ocorre-me, de como você vem até mim, e a maneira que sempre estou receptível a você. Consigo imaginar como seriam as palavras; consistentes, brandas, pulsantes, tranquilas... Seriam como cantares de salomão, e se fossem cantadas, de tão veementes soariam como vozes trovadoristas. Queria hoje ter mil anos, conhecendo as palavras e seus significados. Escolheria uma que chegasse mais próximo do sentir, sim, pois se existir uma palavra que defina o que se sente, este é limitado. Então... Como explicar?... Um beijo é capaz de transmitir? De que maneira seria esse beijo, se este pudesse expressar? Por ter se tornado intenso, seria veloz? Aí, você entenderia? Também é suave... Como seria o beijo? O que está nos entremeios? vou nomear, existir essa palavra, por enquanto eu chamo de amor.
O grande

Era escuro, embora eu tentasse não conseguia encontrar o fim. Da minha orelha direita á esquerda, um arco se formava, eu não via, mas, ele estava lá. Deitada com a face voltada ao céu profundo e obscuro, via sair da parte superior(se é que tinha parte superior) algo semelhante a pedra... Restos de cratera, talvez...De forma lenta, aproximavam-se, vinham de todos os cantos do escuro...Eram pedras de todos os tamanhos, quando próximas, adentravam á minha mente, isso me perturbava, pois parecia que elas iam me atingir, não, elas penetravam como fumaça, sim, eram leves...

terça-feira, 30 de agosto de 2011


A verdade é etapa final do que se teve como questionamento. Provar da verdade é saber que o fim é fracasso. É se sentir vencido por não ter mais sobre o que questionar, como se soubesse a verdade... Isso está relacionado com algum estado lúcido, na mesma proporção que também sabe-se do estado de estar morto... A verdade é definida, a morte é definível, ambas dão a sensação de fim. Encará-las como pequenos fragmentos de relações sobre as coisas, é estar vencido, e estar lúcido diante dela, é estar separado... É decepcionante saber que verdade, lucidez, e morte, não estão interligadas...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pungente


Mover-se por razão, ou pela falta dela, é estado de insanidade profunda. O que fez mover não tem própria razão de ser, e a essa, falta-lhe a compreensão da vastidão que constitui um indivíduo isolado em si... Por medo de deslocar-se, põe-se em movimento... É o costume de ser gerado... Assim o movimento não atrai, é contínuo. Fico aqui, quieta comigo, sentindo uma pequena parte, ou quase nada de mim.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Carpelos

Folhas secas e um lenço no ar, ambos esvoaçantes. Estão opostos ao vento e chocam-se com ele, fazendo com que os movimentos fiquem agitados. Este momento é embaraçoso, mas o vento controla o próprio estado de expansão, para sentir em si, pairar a presença de algo... A ninguém pertence o céu, o que há é o que está sob ele, é embaixo e distante que percebe-se incompletude no ser.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Reflexos de loucura

Têm dias, em que a folha de papel sou eu, esta que estou escrevendo... Possui 32 linhas... Bem, não é de linha que quero escrever, é sobre papel... Mas são as linhas que me impedem de olhar o branco com mais clareza, e essa sombra da minha mão sobre o papel, torna esse branco ainda mais impenetrável... Não há como ignorar a vontade dele, do papel, aliás, é sobre papel que quero escrever! O branco não é preso, a liberdade está atrás das linhas... Tira-se o espiral, tira-se estas linhas, e que eu pare de borrá-lo com a caneta compactor de ponta fina...Tudo isso desagregando-se, não fará diferença, perceberá a distinção quem não enxergava o branco... Notarão que as linhas desapareceram, que o espiral não prende, e que as letras já não existem... Ele permanecerá o mesmo, inerte...  O branco é transparente, talvez ele esteja apenas refletindo algo, neste caso eu no papel?... Ser espelho aprisiona, paralisa. É insuportável carregar uma imagem distorcida em linhas...

terça-feira, 28 de junho de 2011



Tocar no que é concreto não é tocar, é fazer parte. Quando se tocam, estão agrupando-se, e o resultado é definível, continuarão sendo concreto. O que toca não têm definição, existe unicamente. Perde-se com a infinitude, essa, a de não ser tocado, e sentir-se completamente tocado...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Resignação

Perguntaram o que penso quando escrevo, ué, está aqui, escrito. Talvez, para alguns que leem, serão pensamentos. Prefiro que não seja!. Não gosto de pensamentos, não quando se trata de... Do que escrevo... Gosto de um lugar caverna e som ao longe, um único som... Aí, assombro-me e escrevo... Acho que escrever é impulso... O não pensamento, deixa espaço para a existência, esta não pensa, apenas passa... Quando por descuido humano, no corpo sentir o coração batendo, você se espanta.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Trancas

O que presumo, não é um quadrado com uma ou duas aberturas, o que deram o nome de janela. Sou partículas de luz, adentrando na brecha da janela que habitualmente pela manhã está fechada. Abrem quando querem, quando o escuro incomoda, ou ainda quando já passam das 8:00 horas. Entrei antes disso, não há como controlar quando me expando, onde existe espaço, ocupo espontaneamente, é assim a natureza das coisas... Quando você abre a janela, nós nos vemos... Misturo-me a objetos, aqueço persianas, e os poros da sua pele, iluminam-se... Penetra a luz, ela ardentemente te consome. Você, não mais enxerga, o seu corpo volta-se para dentro, sentes calor. Lá, sinto sua vida frágil e plena... você olha apenas o que está a minha volta, as árvores, outra janela, carros, pessoas, pássaros apressados... E eu?... Estou nas brechas, sondando o que existe no escuro, antes que abras a janela...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Neutro

O princípio me são sombras, partículas brancas e escuras. É o tudo que se formou e criou peso, talvez seja matéria, é o nada. O nada está neutralizado mas deu novas formas... Formou a si... Está dentro de si, e visível para si mesmo... Algumas partes se olham e congelam-se, a consciência primária... Nada pensa, nada anseia, somente está lá, pressentindo...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Olho e forma

Não é um diálogo, é observar. Você me olha á dançar. O meu corpo mexe, mas não ouço som. Você está me conduzindo... Eu gosto, mas volto. Quero uma melodia!...Talvez seja menos isolado... Há um desespero neste silêncio. Você gosta dos meus passos, aliás, não existem pés... Existem pés no ar... São como nuvens agitadas e leves. A forma é de linha, não sei o tamanho, elas enrolam-se, e refazem-se com nitidez em alguns dos movimentos. A linha é o ser... A música não ouvida, o corpo não dorsal, o que é?!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Uma noite


Eu estava sem ar! Eu menti. Menti, por quê uma vida precisava ser salva. Eu. Não menti, disse sim para o que ouvi. Menti, pois fui levada, não entenderiam... Corpos sufocaram naquele momento. Gosto de corpos! Mas o momento foi de sentir. Não sinto corpo. Nem sempre gosto do que sinto, mas prefiro!. A noite estava quieta e fresca. Quando você silenciava, ficávamos entrelaçadas. Quando falava, eu partia só. Ficava na escuridão, olhando... Não é necessário acendê-la, ela não é luz. Ninguém a toca, somente ver. A brisa, descendo sob o escuro, sossegou a ausência do feriado de uma sexta... Depois, fomos dormir, com todos aqueles corpos pela casa...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Dois e Um

Não estou encostada do que está vivo.
Parece que há um centro, parece que eu o sou.
Em outro momento flutuo em um centro, então outro é o centro.
Somos a mesma coisa... É coisa e está viva, não se mexe, mas pulsa. Sou o que lhe falta, ou talvez, não preciso de tudo o que tenho, e o que resta, penso que o quer. Somos a mesma coisa... A parte que acho ser insignificante é seu. Por algum motivo está em mim. Não sou tudo o que está em mim, logo eu decido o que não quero. Não tive escolha. Somos a mesma coisa separada. Não quero o que colocou.
Fique com o que está em mim e me deixe oca.
Me deixe oca para eu sentir o que sou!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu

Respiro o que está em mim, não o que está aqui. Estar aqui, faz-me viva. Quando não estou aqui, estou morta? Não. Sou respirada e respiro o que nada está em mim. Está parado, eu não. Respira-me, por quê sou parte ainda inconsciente. Eu não sei o que é, mas respiro o que logo está em mim... Nos olhamos com temor, sabemos que nada irá acontecer, mas temos um igual medo, qual?. O que é consciente não tem medo, sente somente, mas é um sentir medroso. Quando sou respirada, eu me estendo para saber a dimensão. Contorço-me também lenta, e em silêncio... A voz, se eu ecoar, retornará.
O assombro sou eu.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Existir

O espaço e o tempo parecem não coincidirem, e não serem proporcianal ao corpo. O seu corpo esticou-se, forçando um viver indeciso. Pausadamente quebrou a casca que o envolvia. Os olhos continuavam no interior, e somente os membros pareciam saber o que fazer. A pele do que lhe deu a vida era opaca e frágil... Se desuniam á medida que outra vida alargava-se dentro do que outrora estava vazio... Este processo, o do que continua a olhar o interior e é impulsionado pelo vazio pulsante de outro interior, é angustiante e sublime. É um se ver, ainda embrionário e em desenvolvimento. Vejo que nasce um olho, não vejo a forma, mas sinto que ele está se formando. Neste momento metamorfósico, a forma final não é importante. O movimento acontecendo é enternecedor mas amedronta...
Metade

O dia está alternado entre sol e nuvens carregadas. Gosto dos dois estados.
A iluminação do sol traz ao espírito a sensação de irmandade, de reflexos mútuos. Este fenômeno se amplia á maneira a que olhamos para tudo a nossa volta, é então que percebe-se luminosidade em tudo o que existe, proporcionada pela luz... As nuvens escuras traz introversão, ocasionado pela ausência desta claridade. É um encontro de si sem a presença da luz...
Leve

Os pássaros sim, são livres.
Eles possuem o ar fresco da brisa desta manhã.
O ar próximo, inteiro. O ar que esvoaça, que se deixa mover...
Não conhecem o que é dimensão. Sobre-existe simplesmente...