sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Três caminhos a procura do primeiro

A capela na Lagoa de São Pedro era metade de um céu pra mim, a outra metade, eu esqueci, pois, lembro-me de pouca coisa daquele tempo... Há uma vaga lembrança de muitas flores, cores, coros entoados com harmonia, e roupas brancas... Se não me falha a memória, a Igrejinha era azul, de Padre não lembro... Em outro tempo frequentei um local onde havia algumas salas, lá era silencioso, tranquilo, mas eles faziam coisas estranhas... Lembro que eu entrava em um quarto com pouca iluminação, pediam que ficássemos com os olhos fechados até que eles terminassem de fazer um som com as mãos, mas criança não fica com olhos fechados, a menos que estejam dormindo, e então abri os olhos de maneira oculta...  Gostei daquilo; faziam um som com os dedos e liberavam alguma energia em volta do nosso corpo, depois bebíamos uma água... Lá, ouvi  uma palestra em que uma mulher instruía as mães a queimarem a mão do filho se este estivesse curioso de tocar no ferro de passar roupa... Até hoje não entendi o que ela quis dizer, mas acho que entendi a mensagem, pois nunca tive curiosidade de tocar num ferro quente enquanto minha mãe passava a roupa... Pois bem, também fiz parte de um grupo de pessoas que viam a Deus... Eu nunca quis vê-lo... Fico sempre muito ocupada com o espaço incompreendido de mim mesma...

sábado, 17 de dezembro de 2011

Morreu, foram 12 facadas.  Há uns dois meses pude vê-lo de perto. Um menino de semblante maltratado,  tinha o cabelo crespo e uma franja, (sempre alisada) o traje era desconexo, algum acessório de muito dele sempre existia no corpo... Uma fita desajustada presa ao braço magro... Penso que era muito dele porque não fazia parte da roupa habitual...  Tinha um vestuário próprio, alguma coisa nisso complementava o que ele não era...  Ele realmente parecia não estar ali subindo a rua... Ele não existia e não convivia bem com a ausência de vida. Pude ouvir a voz quando alguém ao lado chamou-o para dar notícias da mãe, a boca dele era levemente deformada, a voz nervosa... O que o cercava era inerte, mas, a vida existia para ele.  Quero ser o assassino no momento em que antecedeu o crime, sentir ódio, o medo, a esquiva... Talvez assim eu compreendesse.  Os doze golpes não quero saber, não quero entender.  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Além do mundo sensível

Sentimento era confuso até eu conhecer melhor a palavra sensação. É através de um nome que as coisas põem-se a existir. O que nasceu do coração? Flores ou vento? Nada! Nada?...Ainda não tem um nome... Como encontrar uma palavra para expressar algo que é sentido? Se eu tivesse conhecimento de todas as palavras do mundo, eu saberia explicar? Gostaria de ter hoje mil anos e escrever palavras do que ocorre-me, de como você vem até mim, e a maneira que sempre estou receptível a você. Consigo imaginar como seriam as palavras; consistentes, brandas, pulsantes, tranquilas... Seriam como cantares de salomão, e se fossem cantadas, de tão veementes soariam como vozes trovadoristas. Queria hoje ter mil anos, conhecendo as palavras e seus significados. Escolheria uma que chegasse mais próximo do sentir, sim, pois se existir uma palavra que defina o que se sente, este é limitado. Então... Como explicar?... Um beijo é capaz de transmitir? De que maneira seria esse beijo, se este pudesse expressar? Por ter se tornado intenso, seria veloz? Aí, você entenderia? Também é suave... Como seria o beijo? O que está nos entremeios? vou nomear, existir essa palavra, por enquanto eu chamo de amor.
O grande

Era escuro, embora eu tentasse não conseguia encontrar o fim. Da minha orelha direita á esquerda, um arco se formava, eu não via, mas, ele estava lá. Deitada com a face voltada ao céu profundo e obscuro, via sair da parte superior(se é que tinha parte superior) algo semelhante a pedra... Restos de cratera, talvez...De forma lenta, aproximavam-se, vinham de todos os cantos do escuro...Eram pedras de todos os tamanhos, quando próximas, adentravam á minha mente, isso me perturbava, pois parecia que elas iam me atingir, não, elas penetravam como fumaça, sim, eram leves...

terça-feira, 30 de agosto de 2011


A verdade é etapa final do que se teve como questionamento. Provar da verdade é saber que o fim é fracasso. É se sentir vencido por não ter mais sobre o que questionar, como se soubesse a verdade... Isso está relacionado com algum estado lúcido, na mesma proporção que também sabe-se do estado de estar morto... A verdade é definida, a morte é definível, ambas dão a sensação de fim. Encará-las como pequenos fragmentos de relações sobre as coisas, é estar vencido, e estar lúcido diante dela, é estar separado... É decepcionante saber que verdade, lucidez, e morte, não estão interligadas...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pungente


Mover-se por razão, ou pela falta dela, é estado de insanidade profunda. O que fez mover não tem própria razão de ser, e a essa, falta-lhe a compreensão da vastidão que constitui um indivíduo isolado em si... Por medo de deslocar-se, põe-se em movimento... É o costume de ser gerado... Assim o movimento não atrai, é contínuo. Fico aqui, quieta comigo, sentindo uma pequena parte, ou quase nada de mim.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Carpelos

Folhas secas e um lenço no ar, ambos esvoaçantes. Estão opostos ao vento e chocam-se com ele, fazendo com que os movimentos fiquem agitados. Este momento é embaraçoso, mas o vento controla o próprio estado de expansão, para sentir em si, pairar a presença de algo... A ninguém pertence o céu, o que há é o que está sob ele, é embaixo e distante que percebe-se incompletude no ser.